sábado, 12 de fevereiro de 2011

Eutanásio


00:10
-Acorde, Eutanásio.
Eutanásio. Homem comum, trabalhador, pai de família, vota no PT e torce pro Caxias.
-Vamos lá, Eutanásio.
Ele se levanta.
-Agora, vá até o banheiro, Eutanásio. Mas não faça barulho, ninguém pode ver.
Ele calça as havaianas, e vai, pé ante pé, sem fazer barulho. Eutanásio é muito cuidadoso.
-Muito bem, muito bem. Agora faça, Eutanásio.
Ele hesita por um momento.
-Vamos lá, eu sei que você consegue.
Então, ele levanta o pé, mete dentro da privada e dá a descarga.
-Muito bem, Eutanásio! Eu sabia que você conseguiria! Agora, volte pra cama antes que percebam algo.
Ele volta pra cama, com um sorriso de orelha à orelha estampado no rosto.
Isonilda, a esposa, sente algo gelado nos pés.. ou seria úmido? Bobagem. Deve ser um sonho. Ela volta à dormir.

00:09
-Acorde, Eutanásio. Já sabe o que fazer.
Ele se levanta, calça as havaianas, e vai até o banheiro, pé ante pé. Chega no banheiro, mete o pé na privada e puxa a descarga.
-Eutanásio, a noite passada a sua esposa desconfiou. Temos que ser mais cuidadosos.
Ele pensa por um minuto. Então, pega uma toalha de rosto branca e seca o pé nela. No outro dia, a empregada acha meio estranho a toalha estar manchada de azul, mas ela não diz nada. Afinal, eles nunca atrasam o pagamento, passam o dia fora e Isonilda sempre compra os produtos da Avon que ela vende, então não há do que reclamar.

00:10
Eutanásio está na cama, mas não consegue dormir. Ele fica esperando, e nada. 00:30, quinze pra uma..e nada. Quando já é uma hora…
-Desculpe o atraso, Eutanásio. Tive alguns contratempos. Mas vamos lá, já estamos atrasados.
Ele não se mexe.
-Ora, vamos, o que é isso? Você ficou chateado?
Nada.
-Tudo bem. Desculpe. Não vai acontecer de novo, ok? Agora vamos, por favor?
Ele se levanta, com um imperceptível sorriso no canto da boca. Vai até o banheiro, mete o pé na privada, puxa a descarga, mas… Algo acontece! A empregada não deixou toalha no banheiro!
-Pense rápido, Eutanásio!
Ele se dirige à cozinha e pega um pano de secar pratos, que está sobre a mesa, e seca o pé nele.
-Nossa, essa foi por pouco hein? Acho melhor pararmos por um tempo, está ficando cada vez mais arriscado.
Mas essa é a melhor parte. Eutanásio gosta de viver perigosamente.
-Não podemos ser descobertos. Se houverem testemunhas, teremos que tomar atitudes drásticas.
Ele se convence. Eles vão dar um tempo.
No outro dia, na hora do café, estão Lucicleide, a esposa, e Marinalda, a filha do casal.
-Mãe, o pai tá fazendo aquelas coisas estranhas.
-Mas de novo? ele não tinha parado?
-Sim, mas eu sempre escuto ele indo no banheiro de madrugada.
-Ora, mas o que tem de mal em ir no banheiro de madrugada?
-É que ele sai de lá rindo.
-Acho que vou dizer pra empregada pôr menos alho na comida.
No outro dia, a voz não vem. E nem no próximo. E ele se sente orgulhoso de si.

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